Crianças, Inventoras por Natureza
- por Fabi Araujo
- 17 de dez. de 2015
- 4 min de leitura
Existe uma ideia, bastante difundida entre pais, mães e educadores, que diz que as crianças não devem entrar em contato com tecnologia e conceitos mais avançados de ciências até determinada idade. Mas nossa experiência, após anos trabalhando com crianças e tecnologia, mostra, pelo contrário, que quando bem direcionado, esse contato não só é benéfico para as crianças, como também pode ajudar a fazer do mundo um lugar melhor.
Exagero?
Nem tanto! Talvez, sendo filhos de um sistema de educação que não é feito para fazer de nós adultos de pensamento autônomo e pró ativo, treinados na escola para resolver apenas problemas teóricos e sem relação direta com nossa realidade, seja difícil para nós imaginar um sistema diferente. Mas sim, é possível! E a resposta das crianças a outro tipo de abordagem é incrivelmente positiva!
As ideias das crianças não costumam ser levadas a sério, mas são uma mina de tesouros inimagináveis. Brincar não é uma atividade ociosa, puramente de lazer: é trabalho, é aprendizagem e é algo extremamente sério. Isso também é difícil para nós adultos entendermos, pois estamos acostumados a acreditar que trabalho e prazer não se misturam.
De fato, uma criança pequena passa quase o dia todo trabalhando. E qual é o seu objetivo com esse trabalho? Qual é a força que move suas brincadeiras, suas atividades, seus esforços para, por exemplo, conseguirem se equilibrar na bicicleta, cortar um pedaço de pão sozinhas, montar uma torre bem alta de bloquinhos de madeira, se equilibrar sobre um tronco caído ou mesmo se comunicar através de sentenças cada vez mais complexas?
O que observamos nas crianças é que estão trabalhando o tempo todo para dominar o mundo, ou seja, entendê-lo, usar seus recursos, poder se mover e se relacionar com as pessoas e as coisas, enfim, apreender a realidade que as cerca. Esse não é o objetivo primeiro de todo aprendizado, e de todos os filhotes do mundo? Aprender como se vive nesse planeta, aprender como as coisas funcionam, aprender suas leis e atuar nele através da sua própria capacidade de criar?
E não mora nas crianças, nesse impulso natural e incontrolável de querer conhecer mais, testar as coisas, pesquisar, experimentar e criar soluções para os problemas com os quais a gente se depara, a origem do espírito científico?
Pois é assim que vemos o fascínio que as crianças têm por toda forma de tecnologia! É o caso dos aparelhos eletrônicos, por exemplo, mas também é o caso da roda, do palito de fósforo, do lápis, dos carros e aviões; da descarga do vaso sanitário, do interruptor de luz, das ferramentas. Tudo isso é criação humana, muitas vezes fruto de milênios de estudos, trabalho e pesquisa, resultado de conhecimento acumulado por muitas gerações e, de uma maneira ou de outra, está mudando o curso da nossa história. O medo de novas tecnologias existe há muito tempo, como se fossem alguma coisa maligna, mas o fato é que a História mostra que é impossível frear o impulso humano de criação. Por que, então, manter as crianças alheias a essa dimensão tão presente de nossas vidas?
Conhecemos recentemente o trabalho de um professor chamado Cesar Harada, através de uma plataforma de palestras chamada TED, disponíveis gratuitamente na Internet. Em sua palestra ele explica sobre como ensina seus alunos, em Hong Kong, a amarem a Ciência. Nós recomendamos a todos que assistam (vejam aqui) e vejam como os alunos que são chamados a pensar em soluções reais para problemas reais, tendo acesso à informação e ao conhecimento acumulados ao longo de milênios pelos seres humanos, se sentem plenas ao sentirem que podem, de verdade, fazer diferença no planeta!

Cesar Harada (imagem: TED)
Nosso sistema educacional separa as crianças da vida real, impede que elas conheçam, de verdade, como funciona o mundo ao qual vieram e mantém quase toda tecnologia que as rodeia como um mistério que elas não podem acessar. Foi assim que os adultos dessa e das gerações passadas cresceram, sem saberem como funciona, por exemplo, uma rede de televisão, como é produzido um jornal, como é construído um computador, quais as técnicas, materiais e peças básicas criadas pela humanidade que fizeram do mundo e das cidades o que são hoje.
Talvez daí persista esse medo, entre pais, mães e educadores, de que as tecnologias possam “escravizar” as crianças ou causar algum mal a elas, relacionado à saúde ou ao comportamento. É uma preocupação legítima, visto que videogames, televisões e agora os tablets e smartphones são usados, muitas vezes, somente como mera distração ou maneira de assentar um pouco os pequenos.
Mas nossa experiência, e a experiência do professor Cesar Harada, mostram que não só é possível, como desejável, ajudar as crianças a lidarem com a tecnologia não de uma forma passiva, e sim ativa, e que isso pode não só ajudá-las a entender ainda mais profundamente o mundo onde vivem, ampliando sua autoconfiança, como também ajudar a torná-las um dia adultos conscientes e atuantes na sociedade.
O “mistério” da tecnologia vai aos poucos se revelando como criação humana; perde o fascínio e a aura de “magia” e se converte em instrumento, em ferramenta.
Aqui no LAB, as crianças usam a internet, computadores, conceitos e instrumentos de robótica, microscópio, ferramentas, sensores, lupas, materiais de laboratório e as peças de LEGO – que contam com engrenagens, motores, sistemas complexos de encaixe, correias, correntes, roldanas – e o que mais for necessário, para desenvolver projetos relacionados a problemas atuais, principalmente aqueles ligados aos problemas ambientais, como a falta de água, a necessidade de fontes renováveis de energia, o trânsito das cidades, a poluição do ar e a poluição sonora. Elas também podem brincar com tudo isso livremente e inventarem novas conexões. Elas podem propor novos projetos e brincar de Leonardo da Vinci, de Santos Dumont ou de Nikolas Tesla...
E tem sido incrível perceber, cada vez mais, o quanto elas têm vontade de participar do mundo de maneira mais ativa e como são capazes de fazer conexões tão facilmente entre várias áreas de conhecimento, com tanta inspiração, imaginação e alegria!
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